No esplendor dos meus anos satisfaço minha carne com sonhos
E alimento meus sonhos com a minha carne.

Preciso da harmonia do céu e do inferno
(Que Deus perdoe minhas palavras)
Do tórrido e bandido
Do amor suave e delicado
Da textura do beijo
Com o pecado do seu corpo
Imagino propostas às avessas
Sonho fantasias Sodômicas
Às vezes sinto-me envergonhada pelos meus desejos
Mas logo percebo a pureza de toda acção
Nada é pecado
Só conheço-me na lama dos meus desejos suprimidos
E embrenhada nos prazeres do seu corpo
O pecado me atrai
Não existe nada que me leve mais perto do céu

Imaginei-me no corpo da outra
Sendo amada por você
Sofrendo dos seus carinhos
Sentindo as dores dela
Seus odores me ludibriavam
Dei entrada no mundo mágico dos seus desprazeres
Dadas as mãos como quadrilha
Como túnel
Me senti sufocada
As vertigens
O final não chegava
Me vi frente a frente com a pequena morte
Aquela em que a dor vira amor
E o amor toma forma de dor
Talvez para ser melhor degustado
Vem a latência, a dormência
Aquela ardência persistente
Senti o prazer da tua força
Em meu rosto a fúria das tuas mãos
Mas teu toque é como pétalas, espinhos...
E eu rapidamente despejo meu sangue
Ao bel-prazer do seu desprezo

Não ria
Não tem graça.
Não zombe desta poetisa decadente
Que do alto de seus delírios de paixão e ódio
Deixa-se corroer pela ferrugem
Não tenha ciúmes da minha libertinagem amigável
Do meu papo ébrio juvenil
Sou muito menos do que o frasco de aveia que você usou para tentar me comprar
Não coloque sua mascara ao me ver
Ainda posso ver seu rosto
Ainda percebo sua cara de surpresa
Destino?
Coincidências não existem meu querido !
Sou um filme de segredos desvendados
Uma colcha de retalhos remendados
Não busque sentido nas minhas cores
Pois você tem o mesmo brilho ocre no seu olhar.

Não quero que me vejas como a dama suja
Não quero que me queiras profanamente
Não pense em mim como a vadia da janela ao lado
Não quero-te como impossível
Não sou Lucíola
Não vou morrer dos seus amores, minhas Dolores...
A culpa pode ser minha por ter-te envolvido neste jogo
Mas a culpa também foi sua por aceitar adentrar nele
Te culpo e te perdoo numa fracção de segredos
Me exilo e me condeno
O meu espólio é seu.

Tu meu muso desejado
Minha gota de orvalho
Sinto falta do seu frescor matinal
Do seu gosto adocicado
Minha Canela da Índia, meu Alecrim e meu Almíscar
Meu patchuli
Falta teu aroma na minha alegria
Eu sou teu poço profundo
Sou teu abismo particular
Não me canonize esta noite
Quem sabe amanhã à tarde
Talvez
Por hoje meus desejos sádicos ainda pairam pelo seu corpo sagrado.