Esta tarde caminhei no longo caminho de meu bosque.
Vi estradas, árvores e animais.
Uns selvagens e outros mais dóceis que o esperado.

O vento invade meu rosto com uma impaciência digna do tilintar das horas que nunca passam e que nunca param.

Neste lugar atemporal o tempo parece correr na velocidade do vazio, do escuro.

Mas o vento, o vento me empurrava pra frente.
E assim eu fui andando, seguindo e seguindo para lugar nenhum.

E seguindo... caminhei.
E mil voltas dei no mesmo caminho.
E varias vezes voltei. Parei.

Esperei que você viesse ao meu encontro.

Talvez eu ainda não tivesse chegado aos portões do castelo.
Talvez ainda não devesse ser o fim da jornada.


No vazio permaneci, e mergulhei no frio.
Gotas de chuvas passadas.
Gotas de nuvens vindouras.

Vazio, vazio e mais vazio.

E recomeçei.

Pensando nele.
Tenho certeza que ele pensa em mim.
Despi seu corpo com meus olhos.
Ignorei os conselhos maternos.
Me entreguei com fúria aos teus prazeres.
Estremeci ao toque dos seus dedos.

Senti o cheiro suave...
Seria Sandalo ou Alfazema?

Tento fugir dos clichés de outros amores, de outros poetas...
Mas acabo sempre caindo nas mesmas lacunas de nos comparar com outros amores, outros tempos, mas são os mesmos sentimentos.

A natureza deve se sentir orgulhosa pelos nossos clamores e comparações à sua beleza. Ou então deve ser um tédio ouvir os mesmo sonetos de amores eternos.

Mesmo assim, minha "sinfonia de passarinhos", minha razão de sentir "borboletas no estômago" creio que a licença poética vai me aceitar em seu clã.

Coisas simples de você dariam um belo poema nas mãos da poetisa certa,(E é claro que essa não sou eu), poderia citar exemplos como: a "onda platinada de seus cabelos", o "cheiro acolhedor de sua pele", a " fala macia que sai de tua boca e me enreda, me encanta e faz entrar num mundo utópico"...

Queria eu ser sua admirada Florbela da alma, da Conceição...
Queria ser a junção de tudo que admiras.
Queria ser sua todos os dias.

E cantei as canções mais lindas e desafinadas aguardando sua chegada,
E entrei em tantos mal-amores dando amor a pessoa errada,
Esperei receber dos outros algo que em meu intimo eu já sabia só você poderia me dar.

E tantos outros mil erros cometi,
E defeitos percebi,
E regras criei,
E as mesmas descumpri.

E nesse labirinto me perdi.

Até ver a luz que você irradiava.
Pessoa alva, de grande valor.
Tudo ao redor ficou claro.

E com você nos meus sonhos, o dia raiou.

As cinzas da fogueira aos portões do castelo ainda devem estar incandescentes.

Ao adentrar naquela floresta úmida e escura, percebi que eu era observada.
Por todos os cantos, olhos, risadas...
Não ousaria prosseguir nesta jornada se não fossem os benefícios que receberia ao término dela.
Nem pensaria em respirar com calma e não revelar quem sou se não se fizesse necessário não ser eu mesma.

Respirei fundo e pulei do avião.

Caí na mata e corri para que não ficasse ao relento quando a noite caísse.
Me abriguei no tronco mais fraco da velha árvore. E ele me serviu de ninho.
Mas veio a chuva forte, os ventos e ventanias.

Corri novamente e me esqueci dos motivos que me fizeram embrenhar-me nesta jornada que agora se tornava sem propósito, sem sentido, ou pior, meramente por dinheiro.

Sente e chorei frente ao inimigo que me constrangia e ludibriava.

Confirmei que era fraca e tola.
Nada mais normal para alguém de minha idade.

Ele se foi.
O inimigo. O não-amigo.

E eu fiquei ali sozinha chorando minhas magoas, rezando para que o cavaleiro branco viesse me resgatar. Mas aquela era uma tarefa que eu tinha de transpor SOZINHA.

Ainda vago perdida na floresta.
Mas ainda posso ver ao longe a fumaça do castelo do doce cavaleiro que me aguarda no final da corrida. Com uma coroa de louros em minha homenagem.

Imagino a fogueira, quente e acolhedora.
Lá as coisas não são mais fáceis, mas são menos difíceis. Só porque ele está do meu lado.

Mas aqui, os olhares ainda zombam de mim, e tento me convencer que não preciso ser bem quista para ser feliz.